Pela liberdade de cátedra

Prof. Dr. Richard Miskolci.

Nos últimos anos, a liberdade de cátedra tem sido contestada em nosso país por movimentos à direita e à esquerda, de fora e de dentro da universidade brasileira. Demandas meritórias por direitos e igualdade têm sido usadas para perseguir e ameaçar docentes, como no recente posicionamento de associações e ativistas apresentado em nota datada de 07 de novembro de 2023, criada em evento sobre transativismos promovido pela Cult e o SESC. 


A nota tem caráter de censura ao Professor Richard Miskolci, pesquisador de produção comprometida com os direitos humanos e inestimável contribuição aos estudos de gênero e sexualidade. A declaração de que o sociólogo se tornou persona non grata em espaços de luta anti-transfobia e não pode participar de eventos é equivocada. A acusação de que Miskolci veicula “retóricas negacionistas e que contribuem para o trans-epistemicídio” é inverídica.  

Parte das justificativas para as acusações é sua crítica ao conceito de “cisgeneridade”, o qual não é consenso no campo dos estudos de gênero. A nota também desconsidera as contribuições intelectuais de Miskolci que impactaram análises científicas sobre violência, desejo e políticas públicas que envolvem várias populações, inclusive a de travestis e transexuais.


O debate sobre conceitos é basilar no trabalho acadêmico e envolve pesquisa e discussão aberta a posições divergentes que são fundamentais para avançar o saber científico. Controvérsias teórico-conceituais não se resolvem por ataques pessoais. O teor da nota é de acusação, difamação e policiamento moral. Também de ameaça, já que circula em redes sociais como abaixo-assinado a ser enviado à UNIFESP. 


Neste abaixo-assinado, defendemos a pluralidade no debate público e questionamos qualquer posição que afronte a liberdade de cátedra, cujo efeito é constranger a produção do conhecimento. Posições políticas desagregadoras de cancelamento não contribuem para a  luta por direitos, dentro e fora das instituições acadêmicas. O Nupage se soma aos/às muitos/as colegas pesquisadores/as, leitores/as e grupos de pesquisas para a defesa da liberdade de cátedra e ao inestimável trabalho de Richard Miskolci, fruto de décadas de atuação comprometida e engajada com o debate público e científico sobre as diferenças e desigualdades.




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