“AIDS e Envelhecimento Homossexual: representações gerontológicas e a linguagem da patologia”

Tese de doutoramento em sociologia

João Paulo Ferreira, Ph.D.

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| Resumo

Esta tese explora sociologicamente as continuidades e rupturas das pesquisas sobre homossexualidade e envelhecimento de 1970 a 2018. Interroga como as ciências biogerontológicas representaram a homossexualidade sob o prisma analítico do “paradigma inclusão-diferença”, cristalizado na década de 1990 em políticas de pesquisa envolvendo financiamento, recrutamento e seleção de populações para estudos experimentais de tipo randomizado nos Estados Unidos. Isto é, quando houve a inclusão dos chamados “grupos especiais” em pesquisas clínicas financiadas pelo National Institute of Health, e categorias sociológicas foram reincorporadas aos estudos sob a forma de imperativos tanto políticos quanto epidemiológicos. Os resultados atestam, em primeiro lugar, que as representações da homossexualidade na (bio)gerontologia foram clivadas pelo pânico sexual causado pela epidemia de HIV/AIDS nas décadas de 1980 e 1990. Em segundo lugar, permitem visualizar como o discurso pela inclusão se constituiu em associação ao da diferença, não necessariamente provendo um vocabulário mais positivo a pessoas demarcadas socialmente como parte dos “grupos especiais”. Neste contexto, este estudo também examinou a centralidade adquirida pela “linguagem da patologia” durante o período mais mortal da epidemia de HIV-AIDS – 1981 a 2000 –, confirmando não apenas seus contornos descritivos, mas normativos. A linguagem da patologia formada durante a AIDS, conforme os dados provam, esteve intimamente vinculada a discursos moralizantes, mesmo após a disponibilização comercial da Terapia Antirretroviral Altamente Ativa (HAART). Enquanto “high risk”, “gay men”, “MSM”, “person with AIDS” e “anal” sincretizavam e respondiam aos enquadramentos de gênero e sexualidade já conhecidos produzidos pelas ciências biomédicas, outros processos de estigmatização seguiram uma tendência historicamente desconhecida na biogerontologia. Como parte da pesquisa desenvolvida na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e em análise à secção de Obituários da AIDS – a partir de mais de cinco mil registros de óbitos coletados das edições do Bay Area Reporter, de 1982 a 2000 –, o estudo produziu informações originais que permitiram saber como os óbitos também recrudesceram um vocabulário epidemiológico que concebeu uma “profilaxia de mortalidade” baseada em descrições racializantes. Em termos metodológicos, a pesquisa se baseou em análise documental qualitativa e quantitativa, realizada no banco de dados Web of Science e em coleções sobre sexualidade, história da ciência e AIDS da biblioteca Arthur and Elizabeth Schlesinger, do Radcliffe Institute for Advanced Study, e da New York Public Library. Evidências empíricas mostram que houve uma espécie de “alinhamento categórico” em relação às definições biomédicas sobre homossexualidade e envelhecimento no contexto da inclusão dos chamados “grupos especiais” na década de 1990; e a consolidação de uma mudança na linguagem da patologia desde a disseminação do HIV-AIDS. 

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